A carruagem avan?ava lentamente pela estrada de terra, o som rítmico das rodas ecoando como um tambor solitário no silêncio que nos envolvia. Eu estava deitado no colo de minha tia Ayesha, meu corpo pequeno acomodado em seus bra?os firmes, mas gentis. O balan?o suave da carruagem me embalava, quase como se tentasse acalmar a inquieta??o que crescia dentro de mim. Olhei para o rosto de Ayesha, contemplando cada detalhe como se fosse uma obra de arte. Seus tra?os eram delicados, quase etéreos, e seus olhos brilhavam com uma serenidade que parecia desafiar o caos do mundo exterior. Era como se ela carregasse consigo uma luz própria, capaz de iluminar até os cantos mais sombrios da minha mente.
Conhecia minha tia há pouco tempo, mas já sentia uma conex?o profunda com ela. Sua presen?a era reconfortante, como um porto seguro em meio a uma tempestade. Com ela ao meu lado, eu me sentia protegido, como se nada de ruim pudesse nos alcan?ar. Pensei em Aiza, que agora fazia parte da nossa família. Ela finalmente teria uma vida tranquila, longe do sofrimento que a perseguia. A ideia de que estávamos todos juntos, seguros, me enchia de uma esperan?a que eu mal conseguia expressar.
Mas ent?o...
**CRACK!**
Um estalo agudo cortou o ar, seguido por um ranger ensurdecedor de madeira e metal. A carruagem sacudiu violentamente, e senti meu corpo ser arremessado para a frente, quase saindo do colo de Ayesha. Meu cora??o disparou, e o panico tomou conta de mim antes mesmo que eu pudesse entender o que estava acontecendo.
— O que está acontecendo?! — a voz do cocheiro ecoou, alta e desesperada. — Parem! PAREM!
Os cavalos relincharam em panico, e a carruagem, antes movendo-se suavemente, desacelerou de forma brusca, fazendo com que meu est?mago embrulhasse. O som das rodas arrastando no solo era estridente, como unhas raspando uma lousa, e cada segundo parecia aumentar a sensa??o de terror que se instalava em mim.
De repente, uma voz fria e impessoal veio de fora:
— Matem os guardas rápido, enquanto eu abro a carruagem.
Meu sangue gelou. N?o... isso n?o pode estar acontecendo. O panico subiu à minha garganta, sufocando qualquer pensamento coerente. Eu n?o podia morrer. N?o agora. Tive uma segunda chance, um novo come?o. Ganhei uma família, uma vida de possibilidades. Por favor, alguém me salve... n?o pode acabar assim.
Gritos de agonia atravessaram o silêncio:
— Aaaaaaaaaaaah!
— N?o! N?O! Aaaaaaah!
— Protejam a princesa! A qualquer custo...
— Esses eram os guardas da princesa? — uma voz zombeteira ecoou. — Que patético. Abra a carruagem, chefe.
Meu corpo inteiro tremia. O cora??o batia t?o forte que eu mal conseguia respirar. O suor frio escorria pela minha testa, e as lágrimas rolavam pelo meu rosto sem que eu pudesse contê-las. Olhei para Aiza, que estava encolhida no banco ao lado, suas m?os pequenas cobrindo o rosto enquanto chorava. Seus ombros sacudiam com cada solu?o, e sua voz saía em murmúrios entrecortados.
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— Você prometeu... — ela sussurrou, a voz carregada de desespero. — Disse que me protegeria, que me daria uma nova casa, uma nova família... e agora... agora vou perder tudo de novo.
O desespero em sua voz partia meu cora??o. Eu n?o podia fazer nada... nada.
Nesse momento, minha tia Ayesha, que até ent?o estava em silêncio, estendeu a m?o e tocou o ombro de Aiza com gentileza. Sua voz saiu firme, mas suave, cheia de uma calma imperturbável.
— N?o chore, querida. Eu vou proteger vocês dois. Eu prometo. Segure o Lucas para mim, só por um instante.
Aiza olhou para ela, os olhos ainda úmidos, mas assentiu com a cabe?a, embora parecesse duvidar. Ela me pegou no colo, tremendo. Mas a confian?a no olhar de minha tia me deixou confuso. Como ela poderia nos proteger? Se nem os guardas conseguiram...
A porta da carruagem come?ou a se abrir, lentamente, e o som das dobradi?as parecia anunciar nosso fim. Meu cora??o batia descontroladamente, meu corpo inteiro tremia. Fechei meus olhos, rezando por um milagre, esperando que, de alguma forma, f?ssemos salvos.
De repente, ouvi um som estranho. **Ploc. Ploc.** Como gotas de água caindo ao redor. E ent?o, um estrondo, seguido pelo som de algo pesado caindo no ch?o. Hesitante, abri meus olhos.
O que vi foi surreal.
Ao redor de minha tia, pequenas esferas de água flutuavam no ar, cintilando como diamantes sob a luz pálida do sol. Elas dan?avam, circulando ao redor de Ayesha de maneira graciosa e controlada.
Minha tia... tem poderes?
Antes que eu pudesse compreender o que estava acontecendo, os gritos do lado de fora come?aram novamente, mas desta vez eram de confus?o e dor:
— Aaaaaah!
— O que está acontecendo?!
— Socorro!
Ent?o o som de corpos caindo no ch?o molhado come?ou a ecoar ao redor da carruagem. Um por um, os agressores tombavam.
Minha tia suspirou, o ar escapando lentamente de seus lábios, e ent?o sussurrou para si mesma:
— Foi mais fácil do que eu esperava.
Ela me pegou novamente nos bra?os e saiu da carruagem. O que vi lá fora era aterrorizante: corpos, encharcados pela chuva que caía suavemente, espalhados pela estrada. Todos aqueles homens que nos atacaram, agora deitados, imóveis.
Mas minha tia n?o parecia satisfeita. Ela caminhou até um homem, ainda vivo, deitado no ch?o, seu corpo tremendo. Sua express?o era de incredulidade.
— Levante-se. Você n?o morreu. Usei minha magia para proteger sua vida. — A voz de minha tia era calma, mas carregada de tristeza.
— Eu estou... vivo? — o homem murmurou, sua voz embargada pela surpresa. — Como você... fez isso, minha senhora?
— Senti sua mana e cobri você com a minha. Agora, levante-se. Você vai dirigir a carruagem. — Ayesha olhou ao redor, observando os outros corpos no ch?o, o peso do momento claramente estampado em seus olhos.
Ela se aproximou do homem que havia matado o pai de Aiza. Seu corpo estava jogado no ch?o, sem vida. Mesmo com a dor que aquilo causava, minha tia murmurou baixinho:
— Que você descanse em paz. N?o devemos carregar rancor.
Com um gesto delicado, a terra ao redor come?ou a se mover, cobrindo os corpos dos guardas caídos. Em cada túmulo improvisado, uma folha verde brotava suavemente, como um tributo silencioso àqueles que partiram.
Minha tia, sempre t?o bondosa, chorava baixinho. Ela pediu desculpas a mim e a Aiza por termos testemunhado aquilo. Seu cora??o era gentil demais para a violência daquele dia.
Quando finalmente chegamos em casa, minha m?e estava apavorada. Seus olhos estavam arregalados enquanto ouvia o que havia acontecido. Ela olhou para Aiza, que ainda tremia, e minha tia disse, com firmeza:
— Aiza n?o pode ir para o castelo. Ela é plebeia, e seria perigoso. Ela ficará com vocês nessa mans?o.
Minha m?e, sem hesitar, assentiu, seu rosto suavizando ao olhar para Aiza.
— é claro, querida. Ela é bem-vinda aqui.
E com isso, Aiza foi tomar um banho, ainda em choque.
Ainda estou tremendo. O que aconteceu naquela estrada... foi horrível. Os gritos, o som dos corpos caindo no ch?o, o cheiro de sangue misturado com a terra molhada pela chuva... Tudo isso está gravado na minha mente, como uma imagem que n?o consigo apagar. Mesmo sendo t?o novo, mesmo com meu corpo frágil de bebê, eu senti cada detalhe daquela cena. O medo, a confus?o, a sensa??o de impotência... Tudo foi avassalador.
Meu cora??o ainda bate acelerado só de lembrar. A cada vez que fecho os olhos, vejo os corpos caídos, o sangue escorrendo, os rostos dos homens que nos atacaram... E minha tia, com aquelas esferas de água flutuando ao seu redor, t?o calma, t?o controlada, mas com uma tristeza profunda em seus olhos. Ela nos salvou, mas eu vi o pre?o que ela pagou por isso. A dor que ela carregava, mesmo enquanto nos protegia.
Aiza também estava em choque. Ela chorava, tremia, e eu n?o podia fazer nada para confortá-la. Eu queria dizer algo, queria ajudá-la, mas meu corpo pequeno e frágil n?o me permitia. Só conseguia ficar ali, observando, sentindo o peso daquela situa??o.
Agora, em casa, tudo parece mais calmo, mas a memória daquela cena ainda me assombra. Quando fecho os olhos, vejo tudo de novo, como se estivesse revivendo cada momento. O som dos gritos, o cheiro de sangue, a express?o de dor nos rostos daqueles homens... Tudo está lá, preso na minha mente.
Minha tia nos protegeu, mas eu n?o consigo parar de pensar no que aconteceu. Como ela fez aquilo? O que s?o esses poderes que ela tem? E o q
ue mais está por vir? Este mundo é muito mais perigoso do que eu imaginava, e eu mal comecei a viver nele.