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Capítulo 5 - Uma Mudança Repentina

  — Finalmente te achei! — A voz de Aiza cortou o silêncio da biblioteca, aguda como um grito. Ela estava na entrada, ofegante, o vestido sujo de terra e os cabelos bagun?ados, como se tivesse acabado de sair de uma briga com o jardim. — Ent?o era aqui que você tava se escondendo?

  Fechei o livro com um *tapa* que ecoou nas paredes de pedra. As letras miúdas já tinham feito meus olhos doerem, e a apari??o dela só piorou a dor. O livro era pesado, com a capa de couro desgastada e as páginas amareladas, cheirando a mofo e tinta velha. *"Por que eu insisto em ler essas coisas?"*

  — N?o é da sua conta, enxerida — grunhi, evitando olhar para ela.

  O silêncio que seguiu foi curto, mas dava pra sentir o calor do olhar dela furando minha nuca. Quando levantei os olhos, Aiza estava com as bochechas vermelhas, os punhos cerrados e os lábios tremendo, como se estivesse prestes a explodir.

  — O QUE VOCê DISSE?! — berrou, a voz estridente fazendo meus ouvidos zumbirem.

  Antes que eu pudesse cuspir outra resposta, algo **frio** e **úmido** me atingiu no peito. A esfera de água explodiu contra minha camisa, encharcando-me num segundo. O choque gelado me fez engasgar, e a água escorreu pelas costas, molhando até as meias. A camisa grudou na pele, e o ar gelado da biblioteca fez meu corpo tremer instantaneamente.

  — Aiza! Que raio foi isso?! — gritei, levantando t?o rápido que a cadeira capotou com um estrondo. Minhas m?os tentaram espremer a camisa, mas só consegui respingar água no ch?o. A po?a se espalhou pelo mármore, refletindo a luz fraca das velas.

  Ela cruzou os bra?os, o sorriso de satisfa??o estampado no rosto redondo.

  — Ninguém manda ser mal-educado — cuspiu, girando no salto. Os passos dela ecoaram pelo corredor, cada *clique* das botas me fazendo ranger os dentes.

  Fiquei parado, pingando. A biblioteca cheirava a mofo e papel velho, e a luz fraca das velas projetava sombras nas estantes. *"Por que ela sempre tem que estragar tudo?"* Aiza, com seus seis anos e a magia que brotava dos dedos como se fosse brincadeira, era o centro das aten??es desde que aprendera a conjurar água. Enquanto isso, eu ainda estava tentando sentir a magia no ar, sem sucesso.

  Meu pé chutou a cadeira caída, e o rangido metálico das dobradi?as me arrepiou. *"Até o mobiliário aqui é velho..."* Olhei para a porta semiaberta, onde o reflexo do mármore molhado brilhava como um espelho. A vontade de correr atrás dela e esfregar terra em seu rosto perfeito era forte, mas meus joelhos tremeram. *"N?o. Melhor n?o."*

  Apertei os punhos, sentindo a água escorrer pelas pernas. O cheiro de papel úmido come?ou a subir das páginas do livro caído. *"ótimo. Agora vou ter que explicar pro bibliotecário..."*

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  Saí arrastando os pés, as botas encharcadas fazendo barulho a cada passo. No corredor, o vento frio que entrava pelas frestas das janelas me atingiu como um soco. Arrepiei, os dentes batendo. *"Tá bom assim, universo? Mais uma humilha??o?"*

  A sombra de Aiza já tinha sumido, mas suas risadas ecoavam lá longe, junto com o barulho de passos correndo. *"Deve ter ido pra cozinha, pra se gabar pra m?e..."* Menti pra mim mesmo, fingindo que n?o me importava.

  Parei na frente de um vitral quebrado, onde o vento assobiava. Lá fora, o céu estava cinza, e as árvores do jardim se balan?avam com o vento. *"Por que eu vim parar aqui mesmo? Pra ser o irm?o inútil da princesinha?"* A voz daquele trono negro veio à mente, mas agora parecia uma piada. *"Campe?o? Só se for de passar vergonha..."*

  Um espirro me dobrou ao meio, o corpo todo tremendo. A camisa grudava na pele, e o ar gelado da mans?o n?o ajudava. *"Preciso me trocar antes que vire um cubo de gelo."*

  Virei a esquina e quase trombei com Aiza, sentada no ch?o encostada na parede, balan?ando as perninhas.

  — Finalmente saiu! — ela disse, pulando de pé com um salto que quase a fez cair. — Vamos brincar!

  Revirei os olhos.

  — Tá maluca, criatura? T? molhado até os ossos!

  Ela ignorou, puxando minha manga com for?a surpreendente.

  — Vem! Pega-pega! — gritou, dando um tapa na minha perna antes de sair correndo.

  Fiquei parado, olhando praquele vulto desaparecer. Seu riso ecoava, misturado ao som do vento nas janelas. *"Por que eu sempre cedo?"*

  — Se eu pegar você, vai se arrepender! — gritei, come?ando a correr.

  Minhas botas batiam no mármore, cada passo um *tum* que ecoava nas paredes. Aiza virou a esquina à frente, e quando a alcancei, ela já subia as escadas em caracol, as perninhas rápidas como um raio.

  *"Essa pestinha vai me matar de exaust?o..."* pensei, segurando o corrim?o escorregadio.

  Lá em cima, ela sumiu por uma porta entreaberta — o terra?o. Quando empurrei a madeira pesada, o vento me acertou em cheio, arrancando um gemido. Aiza estava na beirada, de bra?os abertos, rindo da tempestade que se formava no horizonte.

  — Olha, Lucas! Vai chover! — apontou para as nuvens negras, enquanto o primeiro trov?o rugia.

  Fiquei paralisado. A imagem dela ali, frágil e sorridente, me fez engolir seco. *"Ela é insuportável... mas se algo acontecer..."*

  — Desce daí, idiota! — gritei, avan?ando.

  Ela deu mais um passo para trás, os pés no limite do parapeito.

  — Me pega! — provocou, os olhos brilhando com a chuva que come?ava a cair.

  O primeiro pingente me acertou a testa. *"Merda. Merda. Merda."*

  A chuva come?ou a cair mais forte, encharcando o terra?o em segundos. Aiza riu, girando no meio da tempestade, enquanto eu tentava me aproximar sem escorregar.

  — Aiza, isso n?o é brincadeira! — gritei, estendendo a m?o.

  Ela olhou para mim, os olhos cheios de desafio, e deu mais um passo para trás.

  — Confia em mim, Lucas! — ela gritou, e ent?o, sem aviso, pulou.

  Meu cora??o parou. Corri para a beirada, o vento e a chuva batendo no meu rosto, e olhei para baixo. Aiza estava lá, flutuando no ar, cercada por uma aura de água que brilhava com a luz dos relampagos.

  — Viu? Eu consigo! — ela riu, girando no ar como se fosse uma folha ao vento.

  Eu n?o conseguia acreditar no que estava vendo. Aiza, com seus seis anos, dominando a magia de uma forma que eu nem conseguia entender.

  — Desce agora! — gritei, tentando manter a voz firme.

  Ela olhou para mim, o sorriso ainda estampado no rosto, e ent?o come?ou a descer lentamente, pousando suavemente no ch?o ao meu lado.

  — Você viu, Lucas? Eu consigo! — ela disse, pulando de empolga??o.

  Eu só conseguia olhar para ela, a mistura de alívio e admira??o tomando conta de mim.

  — Sim, você consegue — murmurei, colocando a m?o em sua cabe?a.

  Aiza sorriu, e ent?o, sem aviso, me abra?ou com for?a.

  — Vamos brincar mais! — ela disse, puxando minha m?o.

  Eu ri, finalmente cedendo.

  — Tudo bem, mas só um pouco.

  E assim, corremos pelo terra?o, a chuva caindo ao nosso redor, enquanto Aiza ria e brincava, mostrando mais uma vez que, apesar de

  tudo, ela era incrível.

  E eu, mesmo molhado e cansado, n?o poderia estar mais orgulhoso dela.

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